Guma sempre foi um cachorro valente, nunca se assustou com o tamanho dos outros cachorros. Ganhou um apelido até certo ponto pejorativo, mas também, o que fazer se ele foi educado para ser assim. Guma era chamado de "mau elemento".
O Bolinha, que vinha ser irmão do Guma por parte de mãe, nutria por ele um carinho à distância, tanto que ontem, quando a noite estava escura, a lua não iluminava mais as folhas murchas das árvores, o encontrei chorando pelos cantos do pátio a falta do irmão.
Quem estava com a morte predestinada na verdade era o Bolinha e dada a esta situação, tratei de encontrar uma companheira para que ele procriasse e deixasse no mundo filhotes que mais tarde viriam a ser tais quais ao pai.
Procurei em sites de relacionamentos canino. Procurei nos anúncios de jornais. Fui às Agropecuárias e perguntei se sabiam quem tivesse uma "cachorrinha", de preferência que fosse de uma pelagem parecida com a do Bolinha, que é um dourado, uma cor fulva.
Encontrei a Melina, uma bela cadelinha meiga e carinhosa.
Logo ao chegar, chamou atenção dos dois vira-latas da casa. O Bolinha se valendo da posição de chefe da matilha foi se aproximando da fêmea como quem não queria nada. Em nenhum momento demonstrou uma atitude abertamente agressiva para com o caçula que se mantinha distante, sem perder de vista aquela loirinha com olhos de cobiça, pois ele sempre sonhou em ter para si uma companheira daquele porte e estilo.
Estilo elegante. Esbelta era como se apresentava Melina neste primeiro momento, tanto que logo acedeu a chama do amor canino e do desejo carnal em todos os cães do Cantegril. O cão Preto do vizinho da frente, que sempre esnobou os dois lá de casa quando passava pela rua, pensou até em se tornar amigo do Bolinha e do Guma, a quem sempre, quando ele podia, os agredia, mas é claro, com uma maldosa segunda intenção, a de atrair o amor da jovem Melina. Guma e Bolinha se mantinham na sua, e foi ai que tudo aconteceu. Foi assim o triste fim do Guma - Pobre do Guma, morreu por se meter com a fêmea do chefe da matilha.
Não sei não, mas acho que Melina em um determinado momento, passeando pelos caminhos sinuosos do mato, jogou seu charme para cima do Guma, o que despertou nele uma esperança de passar o Bolinha pra trás, como tantas outras vezes o fez. Só que desta vez era ao contrário, ele não queria que o Bolinha fosse como foi para cima dos ouriços, e que devido a enorme quantidade de espinhos, 63 ao todo, uns pela boca, outros nas patas, o que culminou com uma internação do Bolinha no Hospital Veterinário.
Coisas do amor. Pobre do Guma não sabendo quase nada desta matéria foi enfrentar o Bolinha. Este com toda sua força e poder o atacou. Rolaram entre pedras. Pescoço preso entre seus afiados dentes. Bolinha mordia na cabeça do Guma, mordia nas pernas, no corpo inteiro, até que o Guma se deu por derrotado. O sangue escorria pelo corpo e por onde ele passava deixava marcas avermelhadas pelo chão. Guma foi preso no canil para que não mais viesse atrapalhar o amor de Bolinha e Melina.
Que remorso!
Que remorso!
Fiquei com remorso por não ter dado à vítima uma assistência mais imediata, pois não dei a devida importância ao fato, já que ele foi sempre o mais rude, o mais crioulo, o mais pele grossa como se diz no interior.
O pobrezinho quando foi buscado pelo veterinário, já estava condenado a morte.
Pedi e implorei ao veterinário que fizesse de tudo para salvar a vida do Guma. Prometi acender uma vela ao Negrinho dos Pastoreio, que assim como o Guma era preto e foi mal tratado na infância. Prometi aos altos que conseguiria a ele uma cadelinha, loirinha também, se era esse seu desejo. Mas... o que fazer?.... Este foi o seu destino, não conseguiu chegar a ocupar o posto de chefe da matilha como sempre sonhou, pois tinha quase que certeza que o Bolinha morreria bem antes que ele e ai sim, tudo seria diferente.
O pobrezinho quando foi buscado pelo veterinário, já estava condenado a morte.
Pedi e implorei ao veterinário que fizesse de tudo para salvar a vida do Guma. Prometi acender uma vela ao Negrinho dos Pastoreio, que assim como o Guma era preto e foi mal tratado na infância. Prometi aos altos que conseguiria a ele uma cadelinha, loirinha também, se era esse seu desejo. Mas... o que fazer?.... Este foi o seu destino, não conseguiu chegar a ocupar o posto de chefe da matilha como sempre sonhou, pois tinha quase que certeza que o Bolinha morreria bem antes que ele e ai sim, tudo seria diferente.
Pobre do Guma morreu pelo amor de uma cadelinha loirinha como a bela da praia de Pinhal, deixando seu irmão Bolinha numa depressão tal, que foi obrigado a recorrer ao atendimento psicológico do veterinário que sempre lhe cuidou, para poder assim, manter um bom relacionamento com Melina, que hoje espera filhotes dele. Sucesso ao Novo Casal.
É uma história triste com certeza...
ResponderExcluirA ciência nos ensina que os animais são guiados pelo instinto, mas sabemos por experiência, que eles tem sentimentos. Se deprimem e apresentam febre, pela simples ausência do dono, ou como neste caso, do cão companheiro.
Lembro de uma música dos Serranos, que fala sobre isso, chamada "Poncho Molhado":
“A tropa segue devagar mugindo tonta
Talvez pressinta que seu fim é o matadouro
E o tropeiro entristecido se dá conta
O boi é bicho mas tem alma sob o couro...”.
Um clássico campeiro!
Abraço, Anderson Piovezan.
Piovezan, você sempre muito atento e cultivando na alma o sentimento do gaúcho. Realmente no campo, uma das coisas mais triste é o abate de uma rês, na presença da tropa. Eles choram literalmente, correm de um lado para o outro, como se estivem fazendo uma oferenda ao Deuses pela perda do companheiro.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário
Dirceo
Day, a muito tempo estou sensível a histórias de "perdas".
ResponderExcluirNuma delas recebi a seguinte mensagem, não sei de quem diretamente nesta vida terrena, mas dos "ceus" com certeza!
"Quando nós amamos o nosso animal e dedicamos a ele sentimentos sinceros, ao partir, os espiritos o trazem de volta para que não sintamos sua falta." Chico Xavier.
O Romeu está aqui, com muitas caracteristicas do Tobinho.
E... quem sabe não seremos surpreendidos com um lindo filhotinho preto, dessa loura sedutora. E para o bolinha ... não esquecer que os amores vão, mas os irmãos são para sempre.
bjos.
Dirceo
ResponderExcluirUma linda estória de amor e morte... Uma estória trágica.Apenas uma pessoa com grande conhecimento do amor e da alma poderia ter escrito com tanta sensibilidade o sofrimento destes seres que são puro afeto.
Fiquei muito tocada, pois sou fã dos animais.
Desejo melhoras ao Bolinha...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDirceuzinho, quantos Gumas e Bolinhas existem na vida real, sofrendo, calados sem ter a quem recorrer. Grande história Dirceuzinho, só podia esperar isto de uma pessoa inteligente e especial como tu. Beijos e abraços do Hamiltinho.
ResponderExcluirAmigo Dirceo...
ResponderExcluirVc já pensou em escrever um livro de crônicas?
Excelente a Estória do Cãozinho Guma....
Parabéns!
Forte Abraço